6 de março de 2007

O MEDO DE EXISTIR

Tudo neste país nos pede que rastejemos. Mesmo quando queremos caminhar de cabeça erguida. "Não ouses!". "Não inventes", "Não vejas para lá do descoberto". E se fizermos isso, safamo-nos. Somos capazes de se safar.
Se caminharmos como vermes, no sulco deixado por outros vermes na lama, progredimos. Podemos até ser louvados. Suma cum laude.

Pensei durante muito tempo que a razão para este "medo de existir", como disse o filósofo Gil, residia na ditadura recente da qual nos livramos há apenas 30 anos. Julgo poder afirmar agora estar enganado. Salazar, os salazaristas e os salazarentos trémulos são apenas a imagem daquilo que na verdade somos, enquanto país. Na verdade, Portugal não É a coragem dos que partiram nas caravelas. Portugal assenta nos que ficaram a gritar na praia, que voltassem para trás, que para lá da horizonte só poderia haver monstros. Tudo no meu país me pede que não cresça. Que seja mais um. Que não proponha. Que não questione. Que não arrisque.

Ele não tem culpa, o meu país. É feito de lama comezinha. Povoado com carneirinhos mansos.Como as ondinhas da maré baixa, num domingo morno de fim de Verão.
Eu é que não sei se sou capaz de me conformar com a meia-vida que me propôem.

Venham mais cinco ...

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